
Abraão - Wikimedia Commons
Abraão foi o primeiro patriarca da Bíblia, sua existência é questionada por alguns, porém, os que afirmam que ele viveu ainda não chegaram a um consenso quanto a data, supostamente em torno de 2000 aC.
De acordo com o Gênesis, ele nasceu em Ur, no Sul da Mesopotâmia e, por inspiração divina saiu em busca de novas terras para si e seu clã. Contornando o deserto, chegou a terra de Harã (A-RAM), ao Norte da Mesopotâmia, descendo posteriormente para o Egito, indo depois para as terras de Canaã, na Palestina. Proveniente de um povo nômade, a tradição o considera o primeiro hebreu a propagar o monoteísmo, a crença em um só Deus, contra o politeísmo praticado em sua terra natal.
A região entre o Mar vermelho e o Golfo Pérsico ficou conhecida como ‘Crescente Fértil’, berço da agricultura por volta de 12 mil anos aC. Muitos povos ali se localizaram e os conflitos se sucederam permanentemente: Cananeus, Hititas, Filisteus, Fenícios, Moabitas, Edomitas… Nos embates, ganhava aquele que dispunha da tecnologia mais avançada. Dizem os estudos recentes que os filisteus (arqui-inimigos dos judeus) derrotaram os israelitas porque sabiam forjar o ferro, enquanto estes ainda estavam na era do bronze. Tão importantes quanto o ferro ou o aço para vencer disputas, as crenças religiosas do vencedor geralmente eram impostas aos vencidos.
As crenças não surgem magicamente do nada, elas são geradas no caldo cultural onde grupos divergentes se enfrentam e disputam a supremacia, ficando para os vencedores o direito de redigir a história de acordo com sua própria visão e interesses. O relato da história ou o relato mítico sempre representa o ponto de vista do ganhador. Porém, como o vencedor jamais consegue aparar todas as arestas do contexto, mesmo que involuntariamente, sempre deixa resquícios de verdade nas entrelinhas do seu relato. Portanto, cabe aos que tem olhos de ver, enxergar o que não foi dito.
Estudos recentes indicam que Abraão teria sido mais que um homem simples do povo, que um dia se insurgiu contra seu pai, artesão que fabricava ídolos de argila madeira ou pedra. A história de Abraão contada no Gênesis traz muitas contradições, certamente porque estas já existiam em sua origem, além do possível encobrimento feito por aqueles que redigiram as Escrituras.

Atendendo ao chamado divino, Abraão saiu de Ur e foi para Canaã. Assim diz o Gênesis. Comparando essas informações com as descobertas arqueológicas é possível compreender os antecedentes históricos nos relatos bíblicos.
A terceira dinastia de Ur é o período que coincide com uma grande migração do sul da Mesopotâmia em direção ao norte. A produtividade agrícola das terras sumérias estava sendo comprometida em razão do aumento da salinidade no solo. Solos irrigados e mal drenados, em um clima árido com altos níveis de evaporação levaram ao acúmulo de sais, afetando severamente o rendimento agrícola. Para fazer frente aos problemas climáticos, houve uma mudança do cultivo do trigo para a cevada, mais tolerante ao sal, porém insuficiente para alimentar a população que, por volta de 2.100-1.700 aC, estima-se que tenha diminuído em quase três quintos. Essa situação de calamidade enfraqueceu os governantes sumérios que caíram por volta de 2.000 aC, dando início ao império babilônico. Esse contexto de calamidade climática e guerra de conquista pode ter sido a razão para a migração do clã de Abraão e Tera, seu pai, para Canaã.
Abraão é descrito no Antigo Testamento como sendo filho de um oleiro, fabricante de ídolos na cidade-estado de Ur, na Mesopotâmia. Esta é uma leitura reducionista e contraditória, uma vez que a própria Escritura conta uma outra história, feita de guerras entre reinos, alianças para derrotar o inimigo comum, guerreiros mercenários, saques, tudo isso acompanhado de perto por uma divindade guerreira recém surgida.
Cumprindo uma ordem divina, Abraão e sua família deixaram a Mesopotâmia e seguiram em direção a Harã {hoje Turquia}. As Escrituras não explicitam o motivo da viagem, mas indicam que o patriarca dos israelitas questionava a idolatria dos mesopotâmicos e, num acesso de ira quebrou os ídolos fabricados por seu pai.
Assim diz Jeová, o Deus de Israel: Seus antepassados, incluindo Tera, pai de Abraão e pai de Naor, moraram há muito tempo no outro lado do rio Eufrates e eles serviam a outros deuses. (Josué 24:2)
Portanto, temam a Jeová e sirvam-no com integridade e fidelidade; eliminem do seu meio os deuses a que seus antepassados serviram do outro lado do rio Eufrates e no Egito, e sirvam a Jeová. Agora, se vocês não acham bom servir a Jeová, escolham hoje a quem servirão, se aos deuses a quem serviram os seus antepassados que estavam do outro lado do rio Eufrates, ou aos deuses dos amorreus em cuja terra vocês estão morando. Mas, quanto a mim e aos da minha casa, serviremos a Jeová. (Josué 24:14,15)
O deus-lua Sin era o deus patrono da cidade de Ur, mas era também venerado em Harã, o segundo maior centro da adoração à Lua. O deus Sin também era conhecido como Nana, que portava uma barba feita de lápis-lazúli e cavalgava um touro alado, um de seus símbolos, junto com a lua crescente. Em selos cilíndricos ele é representado como um homem velho com uma barba esvoaçante portando o símbolo da lua crescente. Ou seja, todos os seus símbolos eram os mesmos da GRANDE MÃE. Certamente Abraão não estava apenas quebrando ídolos, mas ídolos relacionados aos símbolos femininos, provavelmente porque se tornou um seguidor do recém chegado deus da guerra. Resta saber por que Yaveh escolheu Canaã para ser a terra prometida?

A localização de Canaã é estratégica. Isso explica porque tantos povos aparecem no Antigo Testamento disputando aquela região, situação que ocorre até os dias de hoje. A faixa estreita de terra entre o mar Mediterrâneo e o rio Jordão, faz de Canaã a principal ponte terrestre ligando a Europa, a África e a Ásia. “É uma região indispensável para o fluxo do comércio em tempo de paz e para o movimento de exércitos em tempo de guerra”, escrevem em “Batalhas da Bíblia” os israelenses Chaim Herzog e Mordechai Gichon, especialistas em história militar, em cujo livro eles mostram a situação geoestratégica e geopolítica do Oriente Médio desde a antiguidade, a ascensão e queda de vastos impérios e as principais migrações de diferentes povos que transitaram naquela região.
Na época de Abraão, Canaã estava enfrentando uma guerra. O Antigo Testamento oferece muitas informações sobre este conflito, inclusive sobre a participação do Patriarca com seus 318 guerreiros, indicando que a interpretação que se dá a ele, de ser um simples nômade, filho de um oleiro fabricante de ídolos é, no mínimo, reducionista.
Ao que parece, Abraão era um estrategista e possuía uma poderosa mente militar. Isso fica evidente no relato de como ele venceu quatro exércitos com apenas 318 soldados. Tais exércitos opositores tinham destruído tudo por onde passaram, tornando cativos os habitantes, inclusive Ló, seu sobrinho. A estratégia de Abraão foi vigorosa, pois seu pequeno contingente não só derrotou os exércitos dos quatro reis, como trouxe de volta o sobrinho Ló, sua família e todos os seus bens. Esse feito é grandioso demais para ser atribuído a alguém que não fosse um estrategista militar. A Canaã do tempo de Abraão foi palco de uma guerra entre duas coalizões:
E aconteceu nos dias de Anrafel, rei de Sinar, Arioque, rei de Elasar, Quedorlaomer, rei de Elam (atual Irã), e Tidal, rei de Goim. Que estes fizeram guerra a Bera, rei de Sodoma, a Birsa, rei de Gomorra, a Sinabe, rei de Admá, e a Semeber, rei de Zeboim, e ao rei de Belá (esta é Zoar). Todos estes se juntaram no vale de Sidim (que é o Mar Salgado). Doze anos haviam servido a Quedorlaomer, mas ao décimo terceiro ano rebelaram-se. Gênesis 14:1-4
De um lado se juntaram os quatro reis do Norte Quedorlaomer rei do Elam, Anrafel rei de Sinear {Suméria}, Arioque rei de Elasar e Tidal, rei das nações de Goim {Gói ou Goy, palavra hebraica para referir-se a nação ou povo, também utilizada para “gentios”} fizeram guerra contra as cinco cidades do Vale de Sidim: Sodoma e Gomorra (Gênesis 18:, Gênesis 19:24-25) e outras três cidades da planície: Admá, Zeboim e Zoar (Deuteronômio 29:23). As cidades da planície deveriam pagar tributos por doze anos ao rei elamita e no décimo terceiro ano se rebelaram. O rei elamita não podia permitir que tal rebelião ficasse impune, uma vez que não eram apenas os tributos que estavam em jogo, era o controle da terra pela qual passava {ainda passa) o comércio entre o Egito e todo o lado oriental. Unidos por interesses comuns, Quedorlaomer liderou uma aliança com outros três governantes e marchou contra os insurgentes. Essa coalizão de quatro exércitos arrasou todas as cidades por onde passou. Os vencedores saquearam e levaram cativo o povo derrotado, inclusive Ló, sobrinho de Abraão, com todo o seu rebanho e riquezas, mas terminou sendo resgatado por Abraão.
Contrariando o senso comum, estudiosos dos textos bíblicos entendem que Abraão, além de sacerdote, também foi um exímio chefe militar, e possivelmente o governante de um reino, funções que eram complementares naquele tempo e lugar. Ele até poderia ser um “Habiru” ou “Apiru”, nome encontrado em fontes sumérias, egípcias, acadianas, hititas e ugaríticas referindo-se a uma pessoa, clã ou tribo, que vivia, ou viviam, como nômades desde o Egito até o Golfo Pérsico. No entanto, era uma tribo bem poderosa!
Subiu, pois, Abrão do Egito para o lado do sul, ele e sua mulher, e com ele Ló. E era Abrão muito rico em gado, em prata e em ouro. E fez as suas jornadas do sul até Betel, até ao lugar onde a princípio estivera a sua tenda, entre Betel e Ai; Até ao lugar do altar que outrora ali tinha feito; e Abrão invocou ali o nome do Senhor. E também Ló, que ia com Abrão, tinha rebanhos, gado e tendas. E não tinha capacidade a terra para poderem habitar juntos; porque os seus bens eram muitos; de maneira que não podiam habitar juntos. E houve contenda entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló. Gênesis 13:1-7 {grifo nosso}
Tal qual havia acontecido no Egito {ou estava acontecendo, pois segundo alguns estudiosos a época é a mesma}, os hicsos estavam chegando e se instalando no delta do Nilo, em sucessivas migrações desde 1.650 aC. Através de casamentos dinásticos, os hicsos chegaram ao poder e governaram o delta do Nilo simultaneamente com os faraós nativos, cujo centro do poder estava na região de Tebas. Diante dessa situação, as dinastias tebanas se revoltaram com o fato de terem que pagar impostos aos hicsos, aos reis estrangeiros, o que para os egípcios era inaceitável. O conflito acabou explodindo em uma guerra por volta de 1.570 aC, sendo os hicsos expulsos do Egito. Esta guerra contra os governantes hicsos pode estar relacionada com a Batalha do Vale de Sidim relatada em Gênesis 14, que menciona os 318 “servos”, ou guerreiros de Abraão.
O Antigo Testamento se refere ao deus de Abraão como um deus belicoso. Um grande número de versículos se referem a ele como “Senhor dos Exércitos”. Eis uma amostra:
Porque assim diz o Senhor dos Exércitos: Como pensei fazer-vos mal, quando vossos pais me provocaram à ira, diz o Senhor dos Exércitos, e não me arrependi. Assim virão muitos povos e poderosas nações, a buscar em Jerusalém ao Senhor dos Exércitos, e a suplicar o favor do Senhor. Assim diz o Senhor dos Exércitos: Zelei por Sião com grande zelo, e com grande indignação zelei por ela. E todas as panelas em Jerusalém e Judá serão consagradas ao Senhor dos Exércitos, e todos os que sacrificarem virão, e nelas cozerão. E naquele dia não haverá mais cananeu na casa do Senhor dos Exércitos. (Zacarias 8: 2, 14, 21, 22)
No período que vai de 2.000-1500 aC ocorreram grandes migrações e inúmeras batalhas. Desde o Egito, Canaã, Babilônia, Ásia Menor até a Índia estavam em guerra. E chama a atenção o fato de todas essas guerras estarem relacionadas com o surgimento de uma divindade guerreira em contraposição a uma divindade feminina. A mesma mudança de deuses patrocinada pelos governantes tebanos contra os hicsos, onde se observa a ascensão de uma divindade guerreira {Amon-Ra} que substituiu a Grande Mãe e os símbolos a ela relacionados, inclusive com o ataque aos templos e divindades, também pode ser observada nos relatos sobre Abraão e sua revolta contra as divindades protetoras relacionadas ao feminino, como o deus-lua Sin, adorado em Ur e Harã, também chamada Padã-Arã ou Mitani.

https://armenian-history.com/history/ancient/hayasa-hayasa-azzi/

A Padã-Arã {A-Ram} bíblica onde Abraão residiu por muitos anos era conhecida por ter o mais importante templo dedicado a Sin, também chamado Nana, o deus sumério da Lua. O nome do templo ‘E-khul-khul’ foi traduzido por ‘Casa dos Prazeres’ ou ‘Casa da Alegria’. Porém, seu nome original seria E-Ku-Kur, a ‘Casa da Dupla Montanha da Aurora’. Que “dupla montanha” seria esta? Nada além dos seios da Deusa Mãe!


https://www.atlasobscura.com/places/harran-beehive-houses
Feitas inteiramente de adobe ou tijolos de barro, estas casas protegem do calor abrasador e retêm o ar frio. A estrutura em forma de cúpula termina em uma abertura para que o ar quente acumulado na parte superior possa sair e “jorrar” como leite. Este tipo de arquitetura existe ainda hoje nos vilarejos de Harã preserva esse simbolismo cuja tradição existe há milênios. As casas e o comércio são construídos como domos mamilares duplos. Tal arquitetura, hoje chamada de “colmeia” {nome que não faz muito sentido}, aponta para uma tradição arcaica, quando o deus-lua-Sin, seria na verdade a Grande Mãe, raptada por um Deus masculino com a introdução do monoteísmo patriarcal.
http://arturjotaef-numancia.blogspot.com/2016/01/nanna-quando-lua-mudou-de-sexo-na.html
http://arturjotaef-numancia.blogspot.com/2013/05/o-altissimo-deus-do-ceu-por-artur.html
A adoção do nome feminino “Nana” {que lembra Inanna}, assim como a usurpação do símbolo da lua, é clara demonstração de que no decorrer dos milênios a Grande Mãe passou ao status de divindade. Ela era venerada como DEUSA, contudo, com o surgimento dos conflitos em torno do poder masculino, os homens tiveram que assumir esse sincretismo religioso para que a nova perspectiva religiosa tivesse algum respaldo junto os novos seguidores.
Abraão viveu intensamente esta metamorfose. Os ídolos que ele viu serem quebrados não eram indefinidos, mas aqueles que lembravam o poder da Grande Mãe. Abraão estava em Ur e depois em Padã-Arã quando um deus macho toma o lugar Dela. E, pelos relatos do Antigo Testamento, ele concordava com essa substituição. Pelos relatos do Gênesis, apesar da fome ser o grande motivo para as migrações ocorridas por volta de dois mil anos antes da era comum, existia um problema ainda maior: A Guerra! Tal qual os faraós contra os hicsos, Abraão necessitava de um deus guerreiro, que o ajudasse a vencer, mais do que uma Deusa Mãe, relacionada aos cultos de fertilidade.
Abraão presenciou a guerra no Egito, época em que os faraós tebanos estavam enfrentando os hicsos, mas, em sua peregrinação, quando finalmente chegou em Canaã, os reis do Norte estavam guerreando com os reis das planícies, ao término da qual Abraão atacou os vencedores a fim de resgatar Ló, seu sobrinho. Ou seja, Abraão viajou e se estabeleceu nas principais civilizações da época, palco das grandes guerras, tanto quanto das grandes migrações indo-europeias, velha questão que ainda não está resolvida. Os cientistas ainda não conseguiram provar se os indianos migraram para a Europa passando pelo Oriente Médio ou se os celtas europeus invadiram a Índia, contudo, o símbolo que os unifica, do Egito à Índia nos tempos de Abraão, é o culto a RAM, o Carneiro.
É uma grande ilusão pensar que as civilizações do passado eram fechadas e separadas entre si. A arqueologia vem demonstrando a interligação e miscigenação dessas populações antigas, que trocavam bens materiais entre si e compartilhavam, além de objetos, suas crenças e símbolos. Os livros sagrados judaico-cristãos revelam essa miscigenação. Nossas crenças estão enraizadas nos mitos antigos, nossa língua foi produzida em cadinhos ancestrais muito mais antigos que o grego e o latim, estes também se originaram do sânscrito, que por sua vez se originou das línguas proto-indo-arianas.
No tempo de Abraão existiu em Canaã uma guerra religiosa entre os partidários dos deuses semíticos, chefiados por El e os deuses védicos transportados pelas migrações indo-iranianas. O proto-elamita, língua nativa do Irã, acaba de ser decifrada. Tal descoberta trará grande compreensão sobre aquele povo naquele período histórico.
https://historia.nationalgeographic.com.es/a/descifrada-escritura-fonetica-mas-antigua-mundo_15993
Tais descobertas permitem comparar os relatos das antigas civilizações com os personagens épicos que aparecem nos diferentes livros sagrados. Hoje é possível colocar lado a lado tais informações e se surpreender com os resultados. A revolução tecnológica está possibilitando a construção de hipóteses baseadas no material que emerge, dando coerência significativa a antigas hipóteses e promovendo outras. A história dos Patriarcas é um caso exemplar.
Além dos livros sagrados dos judeus, há os ‘midrashs’, que são interpretações mais ou menos livres que os rabinos fazem para transmitir os ensinamentos da Torá. Há várias ‘midrashs’ sobre Abrão. Um desses midrashs conta como Abrão pegou um martelo e quebrou os ídolos fabricados por seu pai. Uma outra relata que desde muito jovem Abrão começou a compreender que os homens da terra haviam se corrompido por causa da idolatria. Então ele se recusou a adorar ídolos como seu pai, Tera. Diz o texto que, numa certa madrugada Abrão levantou-se e pôs fogo na Casa dos Ídolos de seu pai. Mas seu irmão Harã, pai de Ló, viu o incêndio e tentou apagar o fogo, mas morreu queimado. Abrão, sua esposa e seu sobrinho Ló, cumprindo um desígnio divino, saíram de Ur em busca de Canaã, começando assim sua saga e a do judaísmo.
O SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome. (Gênesis 12:1-2)
Ocorre que o próprio texto bíblico diz que Tera, pai de Abrão, após a morte de seu filho Harã, tomou sua família e organizou uma expedição para fixar-se em Padã-Arã, ou Harã {A-Ram}, local com o mesmo nome de seu filho. Assim, Abrão não “deixou” sua parentela, mas seguiu seu pai, que efetivamente chefiava a família naquela jornada.

https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Sarah_(Biblical_figure)
A Bíblia conta que em Canaã houve fome e por isso Abrão e esposa retiraram-se para o Egito. Lá chegando, Abrão teve medo que o faraó o matasse para ficar com sua mulher, Sara, por isso, combinou que ela deveria dizer ao faraó que era sua irmã, omitindo o fato de ser também sua esposa. O faraó desejou Sara e a levou para o seu palácio, passando a favorecer Abrão. Porém, descoberto o engodo, o faraó chamou Abraão e lhe devolveu Sara, sua irmã-esposa, ordenando que deixassem o Egito. Abrão deixou as terras do faraó muito rico, possuindo rebanhos, prata e ouro. Esta passagem bíblica é muito estranha a ponto de diferentes autores a confrontarem com outros relatos oriundos de outros povos, possibilidade que só está sendo possível porque as línguas em que tais relatos foram escritos já foram decifradas, possibilitando que diferentes relatos sejam comparados.
E também Ló, que ia com Abrão, tinha rebanhos, gado e tendas. E não tinha capacidade a terra para poderem habitar juntos; porque os seus bens eram muitos. E houve contenda entre os pastores do gado de Abrão com os pastores de Ló. (Gênesis 13:5-7)
Embora a Bíblia descreva Abrão como sendo um simples nômade, informações não bíblicas corroboram outras passagens bíblicas que descrevem Abraão como sendo um militar estrategista, descendente da família real e sacerdotal de Ur, capital da Mesopotâmia, antiga Suméria, que tinha pretensões de se tornar um governante e de fato conseguiu, diz Nachman Falbel, historiador e filósofo pela Universidade de Brar Ilan (1964), mestre em História das Religiões e doutor pela USP onde é professor titular.
Revista de História, São Paulo, n. 165, p. 333-366, jul./dez. 2011
Falbel afirma que a Bíblia narra uma guerra envolvendo os reinos de Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e Zoar, que se rebelaram contra o pagamento de tributos ao Rei dos Elamitas. Este se aliou a outros três reis dando início à Batalha de Sidim. Com a derrota de Sodoma, Ló foi levado cativo com toda a sua riqueza. Sabendo disso, Abrão, que na verdade era um grande líder militar, avançou sobre os inimigos libertando Ló e sua família. Esta batalha e outras conquistas o tornaram conhecido em toda região, fazendo dele um líder. Após a Batalha de Sidim, Melquisedeque, Rei de Salém {identificada como Jerusalém no Salmo 76: 2-3}, partiu ao encontro de Abrão e o abençoou. Este, por sua vez, deu a Melquisedeque o dízimo das conquistas da batalha. (Gênesis 14:18-20) Porém, não fica claro quem pagou o dízimo a quem.
Falbel explica que existe uma grande discussão em torno dessa questão. Se Abrão, que lutara e vencera na coligação dos reis, acabou por herdar os direitos sobre seus extensos territórios, como se explica que ele teria pago tributo a Melquisedeque reconhecendo a superioridade deste? Quem herda direitos é o vencedor, e este recebe tributos, não o contrário. Este é apenas um exemplo das inúmeras e profundas contradições que existem na Bíblia, contudo, foi a partir delas que os estudiosos passaram a buscar evidências na realidade.
Até o século 19 da nossa era, ninguém conseguia localizar em um mapa as cidades onde Abrão e sua família teriam ficado. Desde então, muitas missões arqueológicas foram realizadas na região que se chamou Mesopotâmia e antes dela, Suméria. Em 1854, o cônsul britânico e aprendiz de arqueólogo, John George Taylor (1821-1901), descobriu vários selos cilíndricos inscritos com caracteres cuneiformes, que revelaram o nome do rei sumério que erigiu um enorme zigurate: Ur-Nammu. Em 1923, o arqueólogo Leonard Woolley (1880-1960) escavou ao pé de uma das torres do zigurate os restos de uma grande e rica cidade, identificando-a como Ur, na Suméria, chamada de Sinear na Bíblia. Embora os primeiros registros escritos da região remontem a cerca de 3.500 aC, os historiadores modernos sugerem que a Suméria teria sido colonizada por volta de dois milênios antes, por um povo não-semita.
Efetivamente, os achados arqueológicos, a arqueologia das línguas antigas, a linguística, os estudos de religião comparada e, sobretudo a Internet {que possibilitou o rastreamento das informações numa velocidade e amplitude jamais vivida pela nossa civilização} estão trazendo uma nova compreensão sobre o contexto religioso e, muitas vezes, contam uma história diferente da oficial, tanto sobre os personagens bíblicos, como sobre o meio cultural em que os fatos são descritos.
Sendo Abrão originário de Ur, é óbvio que ele estava impregnado pela cultura de origem, que serviu de base para a constituição de sua nova crença. Por esta razão, Samuel Noah Kramer (1897-1990) diz que as chaves para a interpretação das escrituras judaico-cristãs estão nas antigas civilizações da Suméria/Mesopotâmia/Babilônia.
Fazer a etimologia das línguas, regredindo até o sumério, tornou possível compreender o verdadeiro significado dos relatos bíblicos. Kramer afirma que a origem da lenda de EVA nascida de uma costela de Adão deriva de um jogo de palavras em torno da palavra suméria ‘TI’. Esse termo sumério significa indistintamente ‘vida’ e ‘costela’. Em hebraico, Eva significa vida. Ao longo do tempo os termos vida e costela foram se transformando e se intercambiando, sempre guardando seu significado original, até o surgimento do mito: Eva, a ‘vida’ foi tirada de uma ‘costela’.
A Bíblia conta que Abrão teve seu nome modificado para Abraão. Abrão é a forma latinizada de ‘Abram’, ou Ab-ram. AB significa “pai” no sentido de superior, alto, elevado, porém nada é dito sobre o significado de “RAM”. Ocorre que Abrão era natural de Ur, na Mesopotâmia, terra que depois veio a se tornar Babilônia, na qual os hebreus permaneceram exilados por tempo suficiente para incorporarem muitas palavras, lendas e mitos à sua língua e sua cultura.
Impossível compreender ABRAÃO e o monoteísmo sem pesquisar o que se passava em Ur, na Mesopotâmia, em Canaã e na Índia há dois mil anos antes da nossa era.
Para saber quem terá sido AB-RAM, cujo nome foi mudado para ABRA-H-AM, é preciso ir em busca de inúmeras fontes, sobretudo as não ortodoxas, a fim de elucidar o que significa RAM. É o nome de um personagem? É um herói civilizador mítico? O que se sabe é que a palavra ‘ram’ significa ‘carneiro’ nas línguas indo-europeias.

https://www.mdpi.com/2071-1050/12/12/4897 Wikimedia Commons
Uma das primeiras civilizações do mundo floresceu no Vale do rio Indo, na Ásia. Ela ocupava os dois lados da atual fronteira entre o Paquistão e a Índia. Suas maiores cidades foram Harapa e Mohenjo-Daro, onde hoje é o Paquistão. De origem milenar, a região do Indo entrou em colapso por volta de 2.000 antes da nossa era. Os negociantes do Indo usavam selos, com figuras humanas, figuras de animais, descobertos na Mesopotâmia (atual Iraque) sugerindo ligações comerciais entre as duas regiões.
https://escola.britannica.com.br/artigo/civiliza%C3%A7%C3%A3o-do-Vale-do-Indo/481566
O local onde existiu a civilização do Vale do Indo foi invadida por povos arianos. Dessa miscigenação surgiu a cultura védica, que produziu um dos maiores épicos da literatura e da cultura religiosa: o Ramaiana
O épico Ramayana conta a história de RAMA, o herói-civilizador. Não se deve confundir hindú com indiano. Os habitantes da Índia são os indianos, porém nem todo indiano é hindú, termo reservado para aqueles que adotam o hinduismo, como religião. O carneiro era o símbolo de RAMA, cuja vida é contada no épico RAMAYANA. O símbolo do carneiro em contraposição ao do touro terá um papel fundamental nas revoluções religiosas que aconteceram entre os vigésimo e décimo quinto séculos antes de Cristo, época provável dos primeiros patriarcas.
{Épico é a narrativa em versos que apresenta episódios heróicos da história de um povo. Consiste em um gênero literário originário do âmbito da poesia, que relata os atos heróicos de personagens reais ou lendários, cujas ações podem estar fundamentadas em fatos apurados ou idealizados.}
Conforme o historiador grego Flávio Arriano em sua obra Anabasis {Expedição}, em que narra as conquistas de Alexandre, o Grande, Rama viveu na Índia em 6.700 aC. Relata o historiador que nos santuários hindús os sacerdotes mencionavam a data precisa de 64 séculos antes de Alexandre, época em que RAMA chefiou a invasão ao Vale do Indo. Essa informação indica que aconteceram várias e sucessivas migrações antes das já conhecidas movimentações populacionais por volta de 2000 aC.
Os achados arqueológicos demonstram que a civilização do vale do Indo desapareceu gradualmente entre 2.000-1700 aC, cujo fato é atribuído às invasões arianas, embora mudanças climáticas e doenças também possam ter precipitado o seu fim. Harapa pode ter tido 35 mil habitantes e Mohenjo-Daro ainda mais. Além desses dois assentamentos, havia em torno de 60 povoados menores às margens do rio Indo. As migrações indo-arianas-iranianas são teorias controversas. Recentemente essas teorias voltaram a fomentar discussões na Índia depois que um artigo do jornal The Hindu evidenciou provas genéticas de que os povos indo-arianos migraram da Ásia Central e da Europa para o sul da Ásia.

Migrações indo-europeias. Joshua Jonathan via Wikimedia Commons. CC BY SA
No artigo escrito por Subhashish Panigrahi e traduzido por Gustavo Xavier sobre a origem dos povos indianos, a teoria com base na Rigveda, uma das escrituras religiosas mais antigas do hinduísmo, sugere que os arianos são nativos do subcontinente indiano. No entanto, os pesquisadores mais conhecidos tendem a rejeitar essa teoria com base em estudos linguísticos e genéticos, argumentando que evidências apontam para a origem dos povos indo-arianos e iranianos nos proto-indo-iranianos. Após sua separação entre 1800 e 1600 AEC, os iranianos se estabeleceram no Irã, enquanto os arianos migraram para a Anatólia (boa parte da Turquia atual), para o Paquistão, para o norte da Índia e do Nepal. O conceito de uma raça ariana pura serviu para incitar ainda mais o conflito. Além disso, os nazistas foram ao Nepal a fim de estudar a população em busca de confirmar ou não a hipótese de serem os nepaleses aqueles que deram origem à raça ariana. A Teoria da Raça Pura foi a base que sustentou o extermínio de milhares de pessoas nos campos de concentração.
Segundo o articulista, os modelos indo-arianos clássicos tentam explicar como as migrações teriam ocorrido por volta de 1500 AEC da Ásia Central e do Leste Europeu para o Sul da Ásia e para a Anatólia, possivelmente trazendo os ancestrais dos indo-arianos e a língua sânscrita à Índia. O professor da Universidade de Harvard David Reich também é citado. Em 2009, ele publicou o trabalho “Reconstructing Indian Population History” (Reconstruindo a história da população indiana, em tradução livre) e, posteriormente, em 2016, em entrevista, frisou a mistura de raças no subcontinente indiano: No início de 2007, começamos a estudar todo o genoma, todo o organismo e o DNA de inicialmente 25 populações indianas. Atualmente, são mais de 200 populações estudadas. Selecionamos essas populações, pois as consideramos as mais diversas possível para capturar a diversidade linguística da Índia. […] a grande maioria dos grupos indianos hoje descendem de uma mistura de basicamente dois povos ancestrais básicos: um deles denominamos ancestral antigo do norte da Índia e o segundo chamamos ancestral do sul da Índia. Todos os povos indianos são miscigenados, sem exceção; até mesmo os grupos mais isolados, que são caçadores-coletores de florestas ou de lugares isolados, têm uma mistura de ao menos 20% dessas descendências.
Ainda segundo o articulista, o debate em relação à teoria de que os indo-arianos teriam migrado para a Índia e trazido sua antiga língua sânscrita para o sul da Ásia continua gerando controvérsia e abrindo caminho para mais pesquisas antropológicas sobre os povos, as culturas e as línguas da região. As mais de 780 línguas da Índia fazem com o que o país seja um dos mais linguisticamente diversos do mundo. Entretanto, dessas línguas, somente 22 gozam de proteção constitucional, enquanto mais de 196 línguas estão em perigo de extinção.
https://pt.globalvoices.org/2017/07/26/qual-e-a-origem-dos-povos-indianos-debate-sobre-a-migracao-indo-ariana-ganha-novos-capitulos/#:~:text=A%20teoria%20da%20migra%C3%A7%C3%A3o%20indo,para%20o%20sul%20da%20%C3%81sia.

Jona Lendering. CC0 1.0 Universal
Se as tribos iranianas invadiram o Vale do Indo, o inverso também é verdadeiro. No reino de Mitanni os deuses védicos eram adorados e os reis possuíam nomes muito semelhantes aos nomes que aparecem nos épicos indianos Mahabharata e Ramayana, e nos Vedas, livros sagrados do hinduísmo.
Mitanni foi um reino que se estabeleceu no norte da Mesopotâmia. Originalmente, os Mitanni faziam parte do povo ariano que num passado distante migrou para o Vale do Indo, mas que por volta de 1600 aC migrou em sentido contrário e se estabeleceu na Mesopotâmia. A classe alta consistia em uma casta de guerreiros, condutores de carruagem de guerra, os chamados maryannu, que além de conduzirem, criavam cavalos em grandes propriedades rurais.
Segundo Joshua J. Mark, está registrado que foram eles que lideraram o desenvolvimento da carruagem de guerra leve, com rodas em raios em vez das rodas de madeira maciça, como as usadas pelos sumérios, de modo que as carruagens dos mitannis eram mais rápidas e fáceis de manobrar. Escavações dos arquivos hititas de Hattusa (Turquia), encontraram o manual de treinamento de cavalos mais antigo do mundo. A obra foi escrita em 1345 aC, em quatro tabuinhas contendo 1080 linhas, em que um treinador de cavalos de Mitanni, chamado Kikkuli, ensina a arte de treinar os cavalos para a guerra. "Assim fala Kikkuli, mestre treinador de cavalos da terra de Mitanni" e descreve exaustivamente os métodos adequados de treinamento de cavalos.
Existem poucos registros desse povo, mas a correspondência entre os reis de Mitanni com a realeza do Egito e da Assíria evidenciam uma nação que prosperou entre 1500 e 1240 aC. No início de sua história, o principal rival de Mitanni era o Egito, porém com a ascensão dos hititas, os governantes de Mitanni foram forçados a formar uma aliança com seus antigos inimigos, selada por diversos casamentos entre faraós egípcios e princesas de Mitanni.
As dinastias egípcias fizeram vários pactos e assinaram inúmeros tratados com o reino de Mitanni. Relações amigáveis foram estabelecidas com o rei egípcio Tutmoses IV, que reinou de 1425-1417 aC, e que recebeu em casamento Mutemwiya, filha do rei Artatama, cujo filho, Shuttarna, deu sua filha Gilukhepa em casamento ao faraó Amenhotep III para selar a aliança entre as duas casas reais, no décimo ano de reinado do faraó, levando com ela um grande dote. Além de Gilukhepa, o faraó Amenhotep III também recebeu em casamento outra princesa, Tadukhepa, filha de Tushratta, como parte de um tratado que equilibrava o poder entre as duas nações. Amenhotep III foi pai do faraó Akhenaton.
O rei Tushratta, que morreu em 1360 aC, foi o último monarca independente do reino de Mitanni. Enfraquecido por conflitos internos e abandonado por seus aliados egípcios, pois Akhenaton não se preocupou devidamente com a diplomacia externa, o reino de Mitanni se tornou um peão nos jogos de poder entre os hititas e os assírios. Durante o reinado de Tushratta, Wassukkani foi destronado pelo rei hitita Suppiluliumas, sendo Tushratta assassinado no caos subsequente por seu filho Mattiwaza. Artatama, sucessor de Tushratta, desistiu de pedir ajuda aos egípcios e, em vez disso, resolveu fazer um acordo com os assírios. No entanto, Suppiluliumas o traiu e substituiu o rei Artatama por Mattiwaza, o filho de Tushratta, que se tornou rei de Mitanni, agora um reino vassalo dos hititas.
http://worksofchivalry.com/kikkuli/
As Cartas de Amarna revelaram os nomes dos reis de Mitani, antigos inimigos e depois associados aos faraós egípcios, bem como os nomes dos deuses que eles veneravam, impressionando pela semelhança com os nomes da realeza e dos deuses védicos. Resquícios linguísticos da cultura védica também foram encontrados no manual de treinamento de cavalos escrito por Kikkuli, que viveu no século 13 aC, cujo nome é lembrado por ser o autor do texto mais antigo que chegou até nós, dedicado ao cuidado e ao adestramento de cavalos.
A cultura védica identificada no reino de Mitanni está sendo objeto de intensos debates. Diz o linguista Giacomo Benedetti que a teoria mais comum é que o reino de Mitanni foi constituído de indo-arianos, embora outros sustentem que a língua falada no reino era indo-iraniana. Por outro lado, esta identidade indo-ariana de Mitanni tem sido usada para datar o Ṛigveda, que é uma antiga coleção indiana de hinos em sânscrito védico, sendo o Rigveda o primeiro e mais importante veda, pois todos os outros derivaram dele. Outro argumento forte para a identidade indo-ariana é a menção de deuses védicos na correspondência entre o rei hitita Suppiluliuma e Šattiwaza, rei de Mitanni. Os deuses mencionados são: Mitra, Varuṇa, Indra e Nāsatya, inquestionavelmente védicos.
No tratado sobre o adestramento de cavalos os cocheiros são chamados de ‘maryanni’, denominação que corresponde claramente ao sânscrito ārya. No uso iraniano, esta palavra indica o próprio povo iraniano. Na Índia, ārya significa “nobre”. Contudo, o termo "ariano" foi indevidamente utilizado pelos nazistas, no sentido deturpado de "raça superior" referindo-se aos alemães.
http://new-indology.blogspot.com/
Os filólogos e linguistas estão descobrindo incríveis semelhanças entre os personagens dos épicos Mahabharata e Ramayanna com os fatos históricos retratados nas Cartas de Amarna e com os livros sagrados do judaísmo e islamismo. Tais estudos comparativos se tornaram possíveis depois que os hieróglifos e a escrita demótica e a escrita cuneiforme foram decifradas. Ao serem comparadas entre si, essas fontes trazem um novo entendimento para os fatos relatados nas Escrituras, trazendo novos significados e nova compreensão sobre tais personagens.
O Ramaiana conta a vida do herói civilizador RAMA, e pela vastidão territorial que a palavra RAMA alcançou, pois é encontrada desde a Índia até a Europa, é plausível que ela se refira a um título nobiliário ou sacerdotal, ou a um contingente de seguidores de uma dada crença, e não simplesmente ao nome de um ser humano.
Na milenar tradição védica, RAMA pode ser encontrado no nome do deus BRAHMA ou B-RAMA {que também teve introduzido um ‘h’, tal qual Abrahan}. Brahma é o deus número um da trindade hindu {imperdoável o seu uso para nomear uma cerveja}. Brahma dá origem do termo BRÂMANE usado pela casta sacerdotal, cuja palavra é derivada de B’RAM, que significa “Sacerdote”. Segundo o épico hindu, Rama instituiu o sistema de castas na Índia, o qual persiste até hoje, apesar destas terem sido proibidas por lei. A partir das modificações comuns em toda língua, o título sacerdotal “RAMA” se expandiu pelo Oriente e foi usado no Tibet como LAMA, preservando o mesmo significado.
No Egito, RAMA foi abreviado para ‘RA’, divindade solar que sustentava o faraó, incluída no nome RAMSÉS dado a vários soberanos, sendo Ramsés II o mais famoso. Os egiptólogos afirmam que naquele tempo os egípcios gostavam muito de fazer trocadilhos com as palavras. No caso do nome Ramsés a letra ‘M’ ganhou duplo significado: ‘M’ de RAM e ‘M’ de ‘filho’, pois ‘MS’ significa ‘nascido de’. Assim o nome do famoso faraó poderia ser grafado RA-M-SES “nascido de RA”, a divindade. Não por acaso a divindade “RA” teve seu culto expandido no Egito no mesmo momento em que a classe sacerdotal tebana passou a venerar o deus AMON, cujo símbolo era o Carneiro, emblema de RAMA, em detrimento dos símbolos milenares do Touro/Vaca, anteriormente reverenciados.

Naram-Sin reinou de 2 255 a 2 218 aC
O chifre do carneiro usado por Naram-Sin indica que ele foi um seguidor de RAMA. Sua inovação rompeu com a milenar tradição religiosa vinda da Suméria, onde apenas os deuses eram retratados portando chifres de touro em suas coroas reais.
Quem foi RAMA?
O épico RAMAYANA conta a saga de RAMA e de sua esposa, Sita. Estima-se que os eventos do épico podem ter acontecido há 6 000 aC, conforme referência de Arriano de Nicomédia. O Ramayana também faz referência ao irmão de Rama, chamado Bharata, cuja história foi retratada em outro épico, o MAHABHARATA. Rama instituiu as bases do hinduísmo; foi ele quem criou o modelo de organização da sociedade em castas e instituiu o papel da mulher na sociedade hindu. Seus ensinamentos repercutiram na história e deixaram marcas em inúmeras sociedades.
Para os muçulmanos, RAMA é celebrado no mês do RAMADAN, que é o nono mês do calendário islâmico, no qual a maioria dos muçulmanos pratica o jejum ritual, que é o quarto dos cinco pilares do islamismo.
A antiga Pérsia hoje se chama I-RAM. Em 1935 a Pérsia teve seu nome mudado pelo Xá Reza Pahlavi para Ira, no intuito de retornar a um passado glorioso, pois nos mais antigos registros históricos conhecidos sobre aquela região, o povo persa também era chamado de iraniano. A civilização persa englobou diversos povos que habitaram o Planalto Iraniano milênios aC. Ondas de invasores arianos (indo-europeus) chegaram e se fixaram na região: os medos (ao norte), os persas (ao sul) e os partos (a leste). Ciro II, conhecido como “o Grande”, conquistou a Mesopotâmia e a Anatólia. Cambises, seu filho, conquistou o Egito e Dario I, o terceiro rei aquemênida, conquistou a região setentrional da Índia, cortada pelo rio Indo, e regiões do Leste Europeu (ilhas do Egeu e a Trácia), fundando o maior império da história até aquele momento. Dario III, porém, foi destronado por Alexandre, o Grande, no ano 331, marcando o início da queda do Império, consolidada no século sétimo quando acabou conquistado pelos árabes. Como resultado, os persas acabaram incorporando elementos da cultura e religião islâmicas. Porém, os feitos de Ciro e Dario I levaram o Xá da Pérsia a sonhar com a volta gloriosa ao passado, uma das razões para o ressurgimento do uso do nome ancestral da Pérsia: Iram.
I-RAM também ficou consagrado como nome do construtor do Templo de Salomão: HIRAM ABIFF, muito reverenciado pela maçonaria. O nome Hiram Abiff ainda causa controvérsia entre os estudiosos da maçonaria e das escrituras sagradas. Parece que Abiff não seria, propriamente, parte do seu nome, pois Ab em hebreu significa (Pai) e ‘IF’ significa (meu), portanto o nome Hiram Abif deveria ser traduzido por (Hiram, meu pai). É necessário acrescentar que entre os hebreus a expressão (Pai) significava uma honraria, pessoa proeminente, podendo significar também ‘meu conselheiro’, como afirma o Dr. Mc Clintock, citado no livro “The History of Freemasonry”.
https://www.gob.org.br/quem-foi-hiram-abif-artigo-do-conselheiro-federal-helio-moreira/
A letra “I” também é chamada de “Coluna Ayodhia”. Lembrando que Ayodhia foi o reino herdado por Rama. Dentro da maçonaria a letra I simboliza cada coluna que sustenta o edifício maçônico.
Depois levantou as colunas no pórtico do templo; e levantando a coluna direita, pôs-lhe o nome de Jaquim; e levantando a coluna esquerda, pôs-lhe o nome de Boaz (I Reis 7:21)
O I também é Yod, décima letra do hebraico, que na tradição mística judaica representa a onipresença de Deus, sendo também uma das interpretações para a palavra ‘judeu” (yodeu). Na China o I representa a divindade e foi reverenciado no mais famoso dos seus livros sagrados, I-Ching. Não por acaso AYODHIA é o reino de RAMA, descrito no Ramayana.
No Antigo Testamento o nome Rama é mencionado pela primeira vez como sendo o quarto filho de Cuxe, que é o filho de Cam, que é o filho de Noé. (Gênesis 10:6-8) Ainda hoje existe a cidade com o nome RAMALLAH, perto de Jerusalém, que não deve ser confundida com a cidade de Ramá mencionada na Bíblia.
A tribo de Benjamim, clã por clã, recebeu as seguintes cidades: Jericó, Bete-Hogla, Emeque-Queziz, Gibeom, Ramá, Beerote. Adamá, Hazor. Josué 18:21-25 e 19:36
Débora, uma profetisa, mulher de Lapidote, liderava Israel naquela época. Ela se sentava debaixo da tamareira de Débora, entre Ramá e Betel, nos montes de Efraim, e os israelitas a procuravam, para que ela decidisse as suas questões. Juízes 4: 4, 5 (19:13) Na manhã seguinte, eles se levantaram e adoraram o Senhor; então voltaram para casa, em Ramá. 1 Samuel 1:19 (2:11) (7:17)
Samuel apanhou o chifre cheio de óleo e o ungiu na presença de seus irmãos, e, a partir daquele dia, o Espírito do Senhor apoderou-se de Davi. E Samuel voltou para Ramá. 1 Samuel 16:13 Depois que fugiu, Davi foi falar com Samuel em Ramá e lhe contou tudo o que Saul lhe havia feito. 1 Samuel 19:18 (19:19-22)
Pouco se sabe sobre os primeiros reis de Israel. Contudo, a descoberta da Estela de Tel Dã, da Pedra Moabita e do relevo do faraó Shisaque I, dedicado a Amon-Ra, podem indicar que Davi teria reinado entre 1.003-970 aC. O mais importante, porém, é que Davi teria criado um sistema de partição de terras substituindo o antigo sistema de divisões tribais. Tal qual Rama fez no reino de Ayohdia, na Índia.
Por mais estranho que possa parecer, o nome da cidade de ROMA tem forte ligação com RAMA. Os primeiros habitantes de Roma, os latinos e sabinos, integram os grupos indo-europeus que vieram para a península Itálica em ondas sucessivas em meados do segundo milênio aC.
De acordo com a lenda, depois da queda de Troia {12º século aC}, Eneias teria se fixado junto ao rio Tibre onde se casou com uma filha do rei Latino, origem do nome “Latinos” ao seu povo. Eneias teve dois filhos, o primogênito foi afastado do trono pelo seu irmão mais novo. Reia Sílvia, filha de Numitor foi obrigada por seu tio Amúlio, usurpador do trono, a servir como vestal, obrigada à castidade e impedida de ter filhos para que não quisessem reconquistar o poder. Entretanto, seduzida por Marte, deus da guerra, Reia Sílvia deu à luz gêmeos, Rômulo e Remo. Amúlio, temeroso que estas crianças viessem futuramente a destroná-lo, ordenou que as pusessem, fora dos seus domínios, num cesto nas águas do Tibre. O rio, em vez de as levar para o mar, milagrosamente, depositou-as em lugar seco, onde seriam descobertas por uma loba, que as amamentou junto com seus filhotes. Mais tarde, as crianças foram recolhidas por um pastor chamado Fáustulo, que as criou. Autores clássicos como Tito Lívio, Plutarco e Dionísio de Halicarnasso basearam seus relatos em fragmentos de obras de escritores mais antigos, como Helânico de Mitilene, autor grego do 5º século aC. Tais autores, tentaram encontrar explicações racionais para passagens improváveis do mito de criação da cidade, como a loba capitolina. Os romanos designavam pela mesma palavra, lupa, a fêmea do lobo e a prostituta. Os historiadores afirmam que na realidade a ama dos gêmeos teria sido Aca Larência, mulher de Fáustulo, que teria exercido o ofício de prostituta. Nunca é demais relembrar a desqualificação da mulher na sociedade patriarcal romana, com a consequente imputação {observe o termo imputar} de um comportamento reprovável, mesmo que fosse inocente.
https://www.infopedia.pt/$fundacao-de-roma
Conta a lenda que Rômulo e Remo, quando jovens, voltaram-se contra Amúlio, destronaram-no e mataram-no, colocando, em seu lugar, Numitor, seu avô. Depois disso, decidiram fundar uma cidade no Palatino, o local onde tinham sido salvos pela loba. Mas, os dois irmãos e desentenderam e, furioso, Rômulo matou Remo a golpes de espada ficando sozinho para a tarefa de construir a cidade de Roma. Para povoar a cidade recém-criada, Rômulo permitiu que exilados, devedores insolentes, homicidas e escravos fugidos se alojassem, e para assegurar a continuidade da população, foi preciso arranjar mulheres. Deu-se então o Rapto das Sabinas, provocando uma guerra com os sabinos. Rômulo legislou, criou um senado de cem patres (Patrícios), dividindo também a população em trinta cúrias e três tribos: os Ramnenses, os Ticienses e os Lúceres. Cada tribo elegia dez cúrias (comunidade de varões), fornecendo 100 cavaleiros (chamados celeres) e 1.000 soldados de infantaria (os milites) cada uma, formando assim a primeira legião de 300 ginetes e 3.000 infantes. Estes contingentes tribais eram comandados pelos tribunos militares (tribuni militum) e tribunos de cavalaria (tribuni celerum).
https://www.infopedia.pt/$fundacao-de-roma
https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_de_Roma
Teriam sido os Ramnenses uma tribo de seguidores de RAMA em Roma?
Assim como Rama, Rômulo foi um legislador. Tal qual as Sabinas, Sita, a esposa de Rama foi raptada. Tais raptos revelam o avanço de uma estratégia militar de ataque avassalador contra as mulheres, num período histórico em que a Grande Mãe e seus símbolos estavam sendo substituídos pelos símbolos de um deus belicista.
Se no Paleolítico o culto à Grande Mãe tinha por finalidade garantir as colheitas, razão da existência dos rituais de fertilidade, milênios depois, na época das grandes migrações indo-europeias, tal devoção foi sendo transformada, transformando a mulher em objeto sexual e reprodutivo, passível de ser, raptado, capturado, trocado, conquistado, usado, e depois descartado.
Segundo o historiador Flávio Arriano, RAMA conquistou o Vale do Indo em 6.700 aC, ou seja, 4.700 anos antes de Abraão e quase 6 mil anos antes da fundação de Roma, tempo mais do que suficiente para que os fundamentos do mito de base, explicitados no épico Ramayana, surtissem seus efeitos.
A análise do épico Ramaiana {será feita em um capítulo exclusivo} quando comparada com a história de Ab-Ram/Abraão nos relatos do Gênesis dizem muito sobre a formação das bases de uma cultura machista, centralizada no poder fálico, excludente, belicista e patriarcal.
Tal qual Rama, o comportamento de Abraão em relação à Sara é indefensável:
E havia fome naquela terra; e desceu Abrão ao Egito, para peregrinar ali, porquanto a fome era grande na terra. E aconteceu que, chegando ele para entrar no Egito, disse a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei que és mulher formosa à vista; E será que, quando os egípcios te virem, dirão: Esta é sua mulher. E matar-me-ão a mim, e a ti te guardarão em vida. Dize, peço-te, que és minha irmã, para que me vá bem por tua causa, e que viva a minha alma por amor de ti. E aconteceu que, entrando Abrão no Egito, viram os egípcios a mulher, que era mui formosa. E viram-na os príncipes de Faraó, e gabaram-na diante do Faraó; e foi a mulher tomada para a casa do Faraó. E fez bem a Abrão por amor dela; e ele teve ovelhas, vacas, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos. Gênesis 12:10-16
Diz o texto que “por amor a ela” Abraão entregou Sara ao faraó, tendo lucrado muito com isso. Contudo, esta não foi a única vez que Abraão “disponibilizou” sua esposa ao governante local. Ele fez o mesmo com o rei Abimeleque.
E partiu Abraão dali para a terra do sul, e peregrinou em Gerar. E havendo Abraão dito de Sara, sua mulher: É minha irmã; enviou-a a Abimeleque, rei de Gerar, que tomou Sara. Avisado em sonho que ela era a esposa, então chamou Abimeleque a Abraão e disse-lhe: Que nos fizeste? (...) E disse Abraão: Porque eu dizia comigo: Certamente não há temor de Deus neste lugar, e eles me matarão por causa da minha mulher. E, na verdade, é ela também minha irmã, filha de meu pai, mas não filha da minha mãe; e veio a ser minha mulher; E aconteceu que, fazendo-me Deus sair errante da casa de meu pai, eu lhe disse: Seja esta a graça que me farás em todo o lugar aonde chegarmos, dize de mim: É meu irmão. Então tomou Abimeleque ovelhas e vacas, e servos e servas, e mil moedas de prata, os deu a Abraão; e restituiu-lhe Sara, sua mulher. Gênesis 20:1-16
Nas Cartas de Amarna há referências a Abimeleque.
O rei de Gerar, Abimeleque pode ter sido Abimilku que, por volta de 1347 aC ocupou o posto de Príncipe de Tiro (chamado de "Surru" nas Cartas de Amarna) durante o período 1350-1335 aC. Ele é o autor de dez cartas ao faraó egípcio. Na carta EA 147, o faraó Akhenaton confirmou-o como governante de Tiro após a morte de seu pai, e na EA 149, referiu-se a ele com a patente de rabisu (general). Seu nome foi associado ao bíblico Abimelech. Seu nome significa "Meu pai (é) rei".
https://en.wikipedia.org/wiki/Abimilki
O Gênesis conta que Abraão disponibilizou sua esposa por duas vezes ao governante local, primeiro ao faraó {nome indefinido} e depois a Abimeleque. Entretanto, isso pode ter ocorrido em outras ocasiões visto que, segundo o Gênesis: “Seja esta a graça que me farás em todo o lugar aonde chegarmos, diz de mim: É meu irmão”, sugerindo que Abraão usava este artifício de forma recorrente. Abraão usava Sara como escudo para evitar ser atacado nos lugares onde chegava e lucrava muito na hora da partida.
A torá relata que o acontecido com Abraão se repetiu com seu filho Isaque e sua esposa Rebeca, o que é muito estranho. Assim como Abraão pediu a Sara, sua esposa, que ocultasse dos governantes este fato, permitindo que fosse introduzida em seu harém, seu filho Isaque faz o mesmo com sua esposa Rebeca. Uma vez descoberta a “ocultação” {para não dizer mentira ou trapaça}, Abraão e Isaque são agraciados com muitos bens.
Nas Escrituras é dito que houve uma grande fome naquela terra, como tinha acontecido nos tempos de Abraão. Por isso, Isaque resolveu mudar-se para a cidade de Gerar, onde reinava Abimeleque, rei dos filisteus. Assim, ficou Isaque em Gerar. E quando os homens dali lhe perguntavam quem era Rebeca, respondia: “É minha irmã!” Porque tinha receio pela sua própria vida caso dissesse que era sua mulher. Temia que o matassem por causa dela, pois era muito atraente. Abimeleque, rei dos filisteus, aproximando-se de uma janela do seu palácio, viu que Isaque brincava afetuosamente com Rebeca. Então mandou chamar Isaque e disse-lhe: “Afinal ela é tua mulher! Porque disseste que era tua irmã?” Ele respondeu: “Porque tinha medo que me matassem para ficarem com ela!” Abimeleque mandou publicar um comunicado em que dizia: “Seja quem for que tocar neste homem ou na sua mulher morrerá.” E tornou-se um homem de grande posição e cada vez mais rico. Tinha grandes rebanhos de ovelhas e manadas de vacas, assim como muita gente ao seu serviço, de tal forma que os filisteus começaram a invejá-lo. Por fim, o rei Abimeleque pediu-lhe que deixasse o país: “É melhor que nos deixes, porque te tornaste muito mais rico e poderoso do que nós.” Gênesis 26
Abraão e Isaque receberam muitos presentes dos governantes locais e isso está diretamente relacionado à ocultação do fato de suas esposas serem suas esposas. Essa estranha narrativa talvez tenha sido uma manobra dos primeiros escribas da Torá a fim de ocultar a verdadeira procedência dessas esposas, que poderiam ser princesas oferecidas em casamento e naturalmente traziam muitos presentes.
Existem registros de princesas mitanianas que se casaram com faraós egípcios na época dos faraós da 18ª dinastia e que estão bem documentadas nas Cartas de Amarna. Mas, se Sarai foi uma princesa mitanianna, qual teria sido seu nome?
Segundo Catherine Russel, Gilukhipa (c.1.410-1.365 aC) era filha de Shuttarna, rei de Mittani. Ela foi casada (c 1395 aC) com Amenhotep III, rei do Egito (c 1415-1352 aC) como esposa secundária. Sua irmã mais velha ou meia-irmã Mutemwiya casou-se com Tutmosis IV e foi mãe de Amenhotep III, seu próprio sobrinho. Um escaravelho histórico, lançado à época, anunciou a chegada da princesa, no décimo ano de seu reinado (c 1396 aC), e revelou que Gilukhipa foi escoltada por 317 mulheres da corte de Mitanni, que atuavam como damas de companhia pessoais. Ela recebeu o título régio e tinha sua própria corte no palácio de Malkarta, mas não deixou registros de filhos. Quando sua sobrinha Tadukhipa, filha de seu irmão, o rei Tushratta, também foi enviada para se casar com Amenhotep III (c.1368 aC), seu irmão escreveu com orgulho a Amenhotep, pedindo-lhe que comparasse o dote que enviou com sua filha, que considerou ainda mais luxuoso do que aquele que havia sido fornecido para sua irmã.
http://abitofhistory.net/
Há confirmação de três gerações de noivas-princesas mitanianas (Mutemwiya, Gilukhipa e Tadukhipa) nos registros egípcios. E a princesa bíblica “Sarai” pode ter sido Gilukhipa, enviada ao Egito para se casar com Amenhotep III.
https://pt.qaz.wiki/wiki/Gilukhipa
Mas, se Sara foi Gilukhipa, quem terá sido Abraão?
Segundo Tertius Chandler, que trabalha com algumas chaves para descobrir quem foi Abraão, os 317 servos de Gilukhipa, mencionados nos escaravelhos, podem ser os 318 servos, ou guerreiros, de Abraão mencionados na Torá. Talvez os 318 servos que acompanharam Abraão na guerra do Vale de Siquén fossem os maridos das damas que acompanharam a princesa Gilukhipa. Mas também pode ser que o número 318 tenha sido um artifício literário para dizer que Abraão e Sara foram expulsos do Egito com um servo a mais do que eles tinham quando chegaram.
Quanto a “Abrão”, Clhandler e outros autores defendem que Abraão teria sido um título derivado de Brahmin, por sua vez derivado de A'Bram {Ab-Ram}, cujo significado “Sacerdote” foi encontrado nas Cartas de Amarna, trocadas entre os reis de Mitanni e os faraós egípcios.
Abraão pode ter sido um príncipe-sacerdote-guerreiro da casa real de Mitanni, que enviou sua irmã para se casar com o faraó como parte de um acordo político para enfrentamento do inimigo comum nas guerras em que o reino de Mitanni havia se associado ao Egito para enfrentarem os povos vizinhos.
O nome Abrão ou Abraão não aparece nos registros egípcios, mas isso não significa necessariamente muito. No Antigo Testamento é dito que Abrão e sua meia-irmã Sarai, com quem se casou, tiveram seus nomes mudados para Abraão e Sara. Entretanto, a mera adição de um "H" aspirado no nome de Abrão não é uma grande mudança. Isso indica que devemos suspeitar que eles tinham nomes diferentes. “Sarah” nem era um nome, era um título, significando princesa. Qual seria o nome desta princesa? Esta é a indagação de Chandler.
Os nomes originais de Ab-Ram (O Sacerdote) e Sarai (Princesa) podem ter sido apagados dos registros egípcios quando o faraó da 19ª dinastia egípcia (1.213-1203 aC) chamado Merneptah se gabou de já ter eliminado todos os hebreus.
‘Habirus’ foi o nome dado por várias fontes Sumérias, Egípcias, Acádias, Hititas e Ugaríticas a grupos de pessoas que viveram como invasores nômades em áreas da região noroeste do Crescente Fértil da Mesopotâmia e do Irã até a fronteira do Egito.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Habiru
Um dos costumes na época era “apagar” qualquer registro sobre as pessoas que caiam em desgraça. No entanto, a censura sempre deixa rastros.
Ao serem comparadas as estranhas histórias bíblicas de Abraão e seu filho Isaque com suas esposas, e deles com os casamentos reais das princesas mitanianas com a realeza egípcia, é possível alinhar Gilukhipa a Sara e Tadukhipa com Rebeca, esposa de Isaque.
Em 1450 aC. o exército de Tutmés III avançou com sucesso até o Eufrates e o rei de Mitanni se rendeu, pagando tributo ao Egito. No entanto, desenvolveram-se relações amistosas entre essas duas potências, como evidenciado pela correspondência entre o rei Tushratta de Mitanni e Amenhotep III do Egito.
O tratado sobre o treinamento de cavalos de carruagem de Kikkulki contém uma série de termos védicos. Os nomes dos reis de Mitanni são: Parshatatar, Baratarna, Artashumara, Shuttarna, Tushratta, Shattiwaza, Wasashatta, assim como as suas divindades: Mitra, Varuna, Indra.
Essas divindades estão listadas em dois tratados entre Mitanni e Hatti (KBo I 3) e
(KBo I) que envolvem os reis Shattiwaza de Mitanni e o rei Hitita Suppiluliuma, fato que só pode ser explicado pelas ondas migratórias indo-arianas ocorridas pouco antes de 2.000 aC.
https://encyclopedia2.thefreedictionary.com/Mitannians
No início de sua história, o maior rival de Mitanni era o Egito sob o faraó Tutmés I e seguintes, no entanto, com a ascensão do Império Hitita, o Egito fez uma aliança com Mitanni para proteger seus interesses mútuos diante da ameaça de dominação hitita.
https://www.britannica.com/place/Mitanni
Os hititas, um povo indo-europeu, no II milênio aC fundaram um poderoso império {atual Turquia}. Chamavam-se a si próprios Hatti e a sua capital era Hatusa. Eles desenvolveram uma nova tecnologia de guerra, sendo sua principal arma os temidos carros de guerra. A batalha de Kadesh em que lutaram contra Ramsés II é o evento mais famoso e melhor documentado da história hitita.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hititas
Tudo indica que os hurritas foram anteriores aos hititas. Ambos viveram ao norte da Mesopotâmia. O nome que atribuíam a si próprios era hurri, de onde deriva hurrita. Possivelmente os hurritas resultaram da fusão de povos nativos com um povo de língua do ramo indo-ariano do norte da Índia. Estes povos denominavam-se a si próprios haryani, uma das possibilidades para o termo “ariano”. Os sacerdotes hurritas não adoravam os deuses semíticos de Canaã ou Mesopotâmia, mas a deuses védicos. Politicamente, eram organizados numa monarquia em que o mais ilustre dos guerreiros era sacerdote e rei.
Esta talvez tenha sido a razão do conflito entre Abrão e seu pai Tera com a consequente “quebra dos ídolos”. Existiu em Canaã uma guerra religiosa entre os partidários dos deuses semíticos, originários da Suméria e os deuses trazidos da Índia pelas migrações indo-iranianas.
Tera, pai de Abraão, pode ter sido um apelido, ou forma abreviada de Dasharatha, rei de Ayodhia e pai de Rama.
Segundo Tertius Chandler, o rei Tushratta de Mitanni e o rei Dasharatha de Ayhodia, conhecido por sua carruagem mágica podem ter sido a mesma pessoa. Como em sâscrito as letras “D” e “T” eram intercambiáveis deveríamos considerar Tushratta e Dasharatha como grafias alternativas do mesmo nome, servindo o termo ‘carruagens’ como confirmação. Isso não nos diz se eram a mesma pessoa ou duas pessoas diferentes com o mesmo nome, o que, é claro, acontece o tempo todo. Portanto, é preciso juntar mais dados para fazer uma identificação com algum grau de confiança, diz Chandler. Abraão era um menino de pouco mais de 10 anos quando o clã chegou em Mitanni e que Sara era ainda um bebê. Terá já era um homem idoso quando saíram de Ur e não seria surpresa que tivesse morrido logo depois de sua chegada. Dentro desse contexto, não seria surpresa se após o falecimento de Tera alguém na corte de Shuttarna, rei de Mitanni, recebesse as crianças e as criasse. Se assim foi, o meio-irmão adotivo de Abraão pode ter sido Tushratta, cujo nome em sânscrito “Tvesa-ratha” significa “suas cargas de carruagem”.
Chandler, T. (1976): Godly Kings and Early Ethics
No épico hindu Ramayana, o rei Dasharatha ficou com o coração partido quando teve que mandar Rama embora, seu filho primogênito, a fim de que Bharata, seu filho com outra esposa se tornasse o príncipe herdeiro. Se Dasharatha fosse Tushratta, Rama poderia ter sido Abraão, pois tanto Rama quanto Abraão viveram o problema de suas esposas terem que conviver com outro rei. Sita, esposa de Rama, foi raptada pelo rei de Lanka e este teve que passar 14 anos lutando para recuperá-la. Isso combina com Sara, esposa de Abraão, ter sido dada em casamento para Amenhotep III ter convivido com ele por 15 anos (1395 ~ 1380 aC). Em uma versão do Ramayana, a mãe de Sita era a esposa do rei estrangeiro, enquanto a irmã de Sara, chamada Mutemwiya, era a mãe de Amenhotep III.
Existem paralelos suficientes entre estes dois relatos para elaborar uma boa hipótese. É possível que o nome do pai de Abraão “Tera” fosse apenas uma forma abreviada de Tushratta. Se assim for, quando o Gênesis diz que Tera adorava outros deuses, ele estaria se referindo a Tushratta adorando Mitra, Varuna e Indra, os deuses hindus. Mais interessante ainda é a possibilidade de que Abraão tenha sido o filho adotivo de Tushratta e que o sucedeu como rei de Mitanni depois que um de seus filhos biológicos o matou. É possível que Abraão, e não um mitaniano nativo, tenha sido o responsável por intermediar a aliança de Mitanni com os hititas a fim de restaurar a ordem após a morte de Tushratta. Se assim foi, Abraão pode ter aparecido nos registros seculares como Mattiwaza.
Alguns historiadores consideram que Mattiwaza era irmão de Tushratta, enquanto outros o consideram um filho. Na presente tese, Abraão foi o meio-irmão e filho adotivo de Tushratta, daí a ambiguidade. Mattiwaza foi para Hatti, capital do reino Hitita, quando a situação política em Mitanni se tornou instável, ocasião em que ele se casou com a filha de Suppiluliuma, e retornou a Mitanni com um exército hitita para resolver a questão da sucessão. O ano teria sido 1348 aC, no qual Suppiluliuma se aproveitou do tumulto no Egito e em Mitanni para expandir seu território.
Sara havia falecido em aproximadamente em 1350 aC época em que Isaque se casou com Rebeca (isto é, Tadukhipa). Então Abraão casou-se com Quetura, que poderia ter sido filha de Suppiluliuma. No Egito, Akhenaton estava muito ocupado construindo Amarna para se preocupar com estes casamentos, mas teria dado sua bênção e como presente cedeu o território retirado de seu aliado Aziru, o que hoje é a Síria, para Suppiluliuma como parte do acordo, fato que facilitou a expansão do Egito. As Cartas de Amarna nos mostram que a diplomacia era essencial para manter os territórios e os aliados conquistados. Por outro lado, esta pseudo-hegemonia mantinha-se conservada por meio de diferentes fatores, como os casamentos diplomáticos e a troca de presentes.
https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/Caminhando/article/viewFile/8748/6306
https://pt.wikipedia.org/wiki/XVIII_dinastia_eg%C3%ADpcia
Segundo Tertius Chandler e outros, é possível que a verdadeira origem dos primeiros monoteístas Abraão, Isaque, José do Egito e Moisés fosse indo-ariana. Talvez eles fossem descendentes da realeza do Vale do Indo que havia migrado para Ur, na antiga Suméria, para Harã na antiga Mitanni e depois para o Delta do Nilo no Egito. O que mais chamou a atenção dos pesquisadores das Cartas de Amarna foi a semelhança entre os nomes da realeza de Mitanni e os nomes da realeza de Ayhodia, retratada no épico Ramayana, levando-os a usarem tal correspondência para fazerem a datação do famoso épico, além de estabelecerem uma conexão entre: Ramayana, Mitanni e Abraão.
Mitanni concedeu três gerações de noivas-princesas (Mutemwiya, Gilukhipa e Tadukhipa) a faraós, cujas uniões foram bem documentadas nos registros egípcios. Mas, para os rabinos que escreveram a história do primeiro Patriarca teria sido complicado colocar a esposa de Abraão como sendo uma “Princesa mitaniana”, razão pela qual seu nome foi excluído, sendo mencionada apenas pelo seu título “Sarai”, ou seja, "princesa".
Infelizmente não é possível avançar na hipótese levantada pelos estudiosos sem conhecer o épico Ramayana, tema a ser abordado a seguir. Portanto, ao tratar do Ramayana será necessário voltar ao tema Abraão e as descobertas recentes.
Muito provavelmente Abrão {AB-RAM}, tenha sido mais do que um “Pai exaltado”, ou um “Pai de muitos”, como geralmente é dito sobre o significado do seu nome. Ele pode ter sido um rei-sacerdote da cidade de Avaris, ligado ao Templo de On, no Delta do Nilo, e patrono de uma nova religião, a que promovia o Culto ao Sol em contraposição ao Culto à Lua. Este novo culto viria a se tornar o tronco monoteísta, cujos galhos foram o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.
Ainda há muito o que pesquisar sobre a emblemática figura de Abraão. Contudo, muito se pode compreender sobre ele ao rastrear as mudanças dos símbolos religiosos ocorridas no passado a partir do chamado Império de Rama.

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REESCREVENDO OS FATOS
O Antigo Testamento diz que Abraão e Sara eram meio-irmãos e informa a idade de Terá quando seus filhos Abraão e Sara nasceram: 70 anos na chegada de Abraão (Gn 11:10-26), e 80 anos quando Sara veio ao mundo (Gn 17: 17). Ocorre que Harã ficava {Harran no mapa} no reino de Mitanni, local que desempenhou um papel destacado nas relações com o Egito, antes e durante o reinado de Akhenaton, comprovadamente atestado nas Cartas de Amarna, segundo Chandler.
Com a decifração da escrita em que tal correspondência foi trocada vieram a tona novas informações que puderam ser comparadas com as únicas que até então existiam sobre aquele período, as do Antigo Testamento:
1- Mitani foi fundamental para a elaboração do monoteísmo do faraó Akhenaton.
2 - Os fatos que marcaram os faraós que antecederam Akhenaton podem ter relações estreitas com as histórias bíblicas de Abraão, Isaque e José, que veio a se tornar um vizir no Egito.
3 - O templo solar de Om no delta do Nilo teve um papel preponderante nas concepções do monoteísmo nascente.
4 - ‘Om’ nome do Templo de Heliópolis no Egito é de origem hindu.
As dinastias egípcias entraram em pactos e tratados com Mitanni e a filha do rei Tushratta, a princesa Taduhepa, foi dada em casamento a Amenhotep III (1391-1353 aC) como parte de um tratado que equilibrava o poder entre as duas nações. Este tratado foi posto à prova durante uma luta pelo poder entre Tushratta e um parente do rei anterior, Shuttarna, conhecido como Artatama II. O Egito apoiou Tushratta neste conflito enquanto o rei hitita Suppiluliuma I apoiou Artatama II. Tushratta parecia prestes a ter sucesso quando o Egito, temendo o crescente poder dos hititas, retirou seu apoio. Suppiluliuma I, cansado da diplomacia e agora livre para fazer o que quisesse, sem medo de represálias egípcias. O rei de Mitanni, Tushratta, foi assassinado por seu filho, talvez em um esforço para salvar a cidade. Após a derrota, Mitanni foi conquistada pelos reis hititas.
https://www.ancient.eu/Mitanni/
Diz o Ramayana que Rama voltou para casa e tornou-se governante. No entanto, seus súditos o instaram contra Sita em meio às acusações de que ela havia “ficado” voluntariamente com o rei estrangeiro. Com o retorno de Abraão a Mitanni para suceder Tushratta, surge uma questão semelhante com Sara. Tendo permanecido como esposa de Amenhotep III, Sara poderia ter sido impedida de seguir Abraão de volta para Mitanni, uma vez que não seria permitido a uma ex-esposa egípcia voltar a ser esposa de um governante estrangeiro. Isso pode explicar o estranho relato bíblico sobre o medo de Abraão ser morto se o faraó descobrisse que Sara havia sido sua esposa, continua Chandler.
Quanto a Isaque, filho de Abraão e Sara, este foi explicitamente instruído a não voltar a Mitanni para procurar uma esposa, contudo, uma noiva mitaniana foi providenciada para ele. Seu nome era Tadukhipa, chamada Rebeca no Antigo Testamento, Parece que o faraó queria fortalecer as alianças conjugais com Mitanni, por isso precisava manter Sara e seu filho por perto.
Akhenaton, filho de Amenhotep III, poderia estar em disputa com seu meio-irmão Isaque, filho de Sara, caso estivesse propagando seitas orientais, impopulares no Egito. Akhenaton poderia querer Isaque morto por razões político-religiosas. E se a lealdade de Abraão ao Egito estava em questão depois dele se casar com Quetura, a filha de Suppiluliuma, Akhenaton poderia ter colocado Abraão à prova, ordenando-lhe que fizesse o impensável, matar o próprio filho. Na Torá, o relato sobre a imolação de Isaque pode estar relacionado com tais batalhas, razão pela qual foi mantida a prova de fé, mas modificando o contexto.
Outra similitude é que Sita teve dois filhos gêmeos de Rama. Neste caso não dá para inferir que Sara e Sita eram a mesma pessoa, pois se Sita fosse Sara, ela já estaria velha demais, por isso a referência aos filhos gêmeos poderia ter sido feita para seus netos Esau e Jacó, filhos gêmeos de Rebeca. Após a morte de Sara, Abraão não viveu muito mais. Enquanto ainda estava vivo, ele enviou os filhos que teve com Quetura ‘para o país oriental’ para evitar um conflito com Isaque continua Chandler.
Estando Isaque casado com uma mitannita e Abraão com uma hititta, é possível que isso se apresentasse ao faraó como uma ameaça, seja por parte de Abraão e Isaque ou por parte dos descendentes deles. O faraó poderia temer que eles interferissem na política expansionista egípcia sobre a região de Canaã. Nesse caso é possível que o “país do leste” referido na Bíblia não teria sido Mitanni ou Ur, ou os escribas teriam dito isso como fizeram em tantos outros lugares. Assim, mais provavelmente o “país do leste” seria a Índia. Se os filhos de Abraão e Quetura foram enviados para lá em 1345 aC, torna-se possível que sua história tenha ficado inscrita profundamente no folclore hindu, que estava sendo formulado naquela época. Assim, pode-se pensar que a influência védica no Egito e entorno foi tão real quanto a influência de Abraão na Índia. As hipóteses são instigantes, mas as comprovações devem ser buscadas.
Entretanto, se o relato acima foi possível, por que tais informações teriam sido omitidas dos livros sagrados judaicos? A resposta pode ser apenas que a breve passagem de Abraão como rei de Mitanni foi uma tangente sem importância e não era digna de menção na Torá. Coisas muito mais importantes estavam prestes a acontecer em Canaã e que teriam um efeito muito mais profundo sobre a emergente cultura judaica. Então os rabinos deixaram para os primos distantes da Índia a tarefa de preservar esse capítulo da história de Abraão/Mattiwaza, meio-irmão e filho adotivo de Tushratta, consagrado na Índia como Rama e imortalizado no épico Ramayana.
A Torá e o Ramayana se encaixam um com o outro e com a história remontada nas Cartas de Amarna em muitos pontos. A ligação entre a Índia e Mitanni era forte devido à sua herança comum, enquanto os laços com outras culturas eram mais fracos. Os nomes Rama, Ab-Ram, Abrã e Abraã veio de Brahmin, ou seja, um sacerdote que professava a crença védica. Da mesma forma, a Torá lembra Mattiwaza e Gilukhipa não pelo nome, mas pelos títulos, Abraão e Sara, que foram o Sacerdote e a Princesa.
Estas hipóteses só foram possíveis pela leitura dos textos escritos em línguas que só recentemente foram decifradas e que agora estão sendo comparadas com as Escrituras. Entretanto, há muito trabalho pela frente antes de poder chegar a uma conclusão. Os estudos estão apenas começando.
Para saber mais sobre as hipóteses de Tertius e Charles Chandler:
http://qdl.scs-inc.us/2ndParty/Pages/18667.html
https://berkeleyplaques.org/e-plaque/tertius-chandler/
Charles Chandler em: qdl.scs-inc.us

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